
Eu comecei a cursar Letras aos dezessete anos na UFC (Universidade Federal do Ceará).
Decidi pelo curso por conta de uma predileção por idiomas e Literatura , mas não necessariamente pela Língua Portuguesa.
A faculdade
No primeiro semestre eu já me frustei com as disciplinas relacionadas à gramática.
Enquanto minhas notas nas disciplinas que envolviam Literatura eram acima da média, nas que envolviam gramática eu era mediana apenas.
Eu levei comigo a doce ilusão de que conseguiria desvendar todos aqueles mistérios envolvendo orações subordinadas…
Mas isso só foi acontecer quando eu parti para a prática e claro, não desvendei todos (risos)
As disciplinas desconstroem boa parte daquilo que aprendemos na escola regular.
Temos contato com outras abordagens de entendimento e classificação de termos gramaticais.
Há uma certa rixa entre formalistas e funcionalistas no curso de Letras e cada um fica tentando vender o seu peixe, é divertido às vezes.
As disciplinas que mais gostei
As disciplinas que mais me encantaram durante o período do curso foram as de Literatura Espanhola (todas I, II, II e IV) e também as duas disciplinas de teoria da Literatura.
O meu xodó foi Literatura Infantil, com a querida professora Elvira Drummond.
O mercado de trabalho

Basicamente, quem faz Letras, torna-se professor. É a maior oferta de vagas para essa graduação.
Há outros postos de trabalho como redator, intérprete, tradutor de materiais como livros, artigos…
O profissional pode ainda ser escritor.
Hoje , está muito mais simples publicar um livro de forma independente.
Publiquei o meu primeiro livro digital para Kindle, na Amazon, de forma independente:
Bom não fiquei rica (risos), mas minha cria já ficou algumas semanas na lista dos mais vendidos da categoria “Moda e Artesanato”.
Tirei até print da tela de tão emocionada e agradecida. Louvo a Deus por essa conquista e isso me motiva a escrever cada vez mais:

As dores da profissão de professora
São muitas as dores, os desafios dessa profissão. Há dias em que a única coisa que desejo é nunca tê-la escolhido.
Isso acontece quando sou alvo da falta de respeito de certos alunos.
Isso também acontece quando preparo aquela aula maravilhosa e a turma ignora.
Isso também acontece quando sou alvo de assédio moral por parte da gestão escolar.
Já fiquei afastada por síndrome do pânico.
Eu cheguei ao ponto de não conseguir ver um aluno sem ter um ataque e começar a perder o fôlego e me tremer.
Alunos já gritaram comigo , ameaçaram-me. Já fui alvo de cadeira numa sala de aula.
Tudo isso nos desconcerta. Por isso , é bom saber onde você estará pisando ao entrar nesse barco. Não é fácil e as tempestades são violentas.
O lado bom

O lado bom é que nem todos os alunos são horríveis como esses que citei. Eles são a exceção.
Nem todo os gestores são desumanos como esses que mencionei, alguns são verdadeiros anjos na terra enviados por Deus e já tive a honra de trabalhar com pessoas assim.
A parte linda e que traz uma enorme satisfação é saber que você foi instrumento de Deus para mudar a vida de alguém.
É aquele aluno que volta um ano depois de terminar o ensino médio e lhe agradece porque diz que você foi fundamental para sua aprovação.
É a aluna que se inspirou para seguir a mesma carreira, sabendo das agruras , mas enxergando flores no caminho de pedras.
Deficiências e incoerências
Professores são desrespeitados. Isso é fato. Dentro das escolas muitos profissionais já entram querendo sair.
Alguns são inescrupulosos para conseguir o feito de sair de sala de aula e ingressar numa gestão e quando conseguem fazem joguinhos até o fim da vida para lá permanecer.
Não querem gerir, querem fugir da sala de aula.
Salários baixos
Os salários são muito baixos mesmo. Professores são profissionais de nível superior que ganham como nível médio. Chega a ser ridículo.
Um país que não investe em educação de maneira assertiva está mesmo fadado ao fracasso econômico. Não é de se admirar que vivamos num mar de atraso.
Nossos alunos não têm gosto pela leitura e isso não é estimulado nas séries iniciais.
Esse hábito deveria ser fomentado desde o pré-escolar, ainda nas creches.
Estrutura precária
Eu trabalho numa escola que possui uma estrutura regular. Mas ainda assim algumas deficiências.
Algumas salas possuem ar-condicionado , o que facilita o trabalho e o controle de saída dos alunos.
Mas, nas salas quentes, com termômetros marcando acima de quarenta graus no interior destas (uma verdadeira estufa) é impossível se concentrar.
Já tive queda de pressão algumas vezes e não desmaiei por pouco.
Espaços de planejamento
Não possuímos espaço reservado para planejamento de aulas e são apenas 13 horas por semana para planejar conteúdo para várias turmas.
Alguns professores são piores que os alunos e usam de forma inconveniente o tempo de planejamento para conversa fiada, atrapalhando quem realmente quer trabalhar.
Não há incentivo à formação nem investimento

Não há investimento em formação continuada. O professor precisa retirar do seu mísero salário altas quantias para se atualizar e se especializar.
Mestrado e doutorado? Bom, se você dispuser de tempo e tiver conhecidos (o famoso peixe) numa universidade pública, pode conseguir entrar.
Os programas de mestrado profissional gratuitos são dedicados apenas para professores que atuam no nível fundamental. O professor não tem direito de se afastar para os estudos.
Eu, como professora de nível médio não posso aderir.
Bom, essa é a realidade que enfrento na escola pública. Não conheço a rotina das particulares porque nunca trabalhei em uma.
Letras é para você?

O curso é maravilhoso, mas as oportunidades de trabalho se concentram para a docência e em escolas e onde as vagas são mais abundantes.
A profissão “professor” de educação básica não traz prestígio e é vista com muito preconceito e desdém.
Só para você ter uma ideia, já me perguntaram aqui no blog como é que eu me preparava para a pior profissão do mundo. (risos)
Não é fácil, veja o quanto de resiliência você possui.
Até eu conseguir, pela graça de Deus , chegar num estado de controle emocional para não me deixar ser afetada de forma negativa pela minha profissão, foram muitos percalços.
Foram muitos dias de choro, de arrependimento e digo , se eu pudesse voltar atrás eu não abraçaria esse ofício. Não mesmo!
Espero que esse post ajude você a encarar a realidade entrando nesse ramo ou fugindo dele de vez (risos)
Faça uma análise de prós e contras e principalmente: tenha um plano. Eu demorei a fazer o meu, mas fiz.
Conhecer mais sobre planejamento estratégico pessoal pode ajudar
Ficou alguma dúvida? Deixe um comentário ou entre em contato pelo formulário de contato aqui do blog. Abraço grande!
Nossa, parece que li minha história nesse post rsrs
Quando li sobre orações subordinadas até ri rsrs
Não me arrependo ter feito Letras, fiz na UFMA (Licenciatura em Letras/ Português/ Espanhol e respectivas Literaturas).
Eu sempre fui muito querida pelos alunos, mas nesse ano estou encontrando muitas dificuldades.
Eu entrei nessa área imaginando que ia querer ser professora pra sempre, mas nesse ano decidi que não.
Realmente não é fácil, são muitas questões, não dá pra comentar tudo aqui.
Obrigada por compartilhar! Bjos
A faculdade é boa sabe Aline, mas , se pudesse voltar no tempo ela não seria minha primeira opção. A profissão me trouxe muitos aprendizados, aprendi a me expressar melhor, a superar boa parte da minha introversão, fiz amizades valiosas e tenho turmas queridas que guardo no coração até hoje. Deus om certeza e colocou nesse caminho para eu aprender, abençoar e ser abençoada, mas não é fácil e não posso falar só das maravilhas. Quem quer entrar nessa precisa saber o que vem pela frente, precisa entrar sabendo para não chorar depois hehe,
Obrigada pelo comentário e Deus nos abençoe nas nossas carreiras.