

A pressão interna que nos oprime… parece meio redundante o título do texto, mas pressão e opressão são duas coisas diferentes.
A pressão segundo a Física, é uma grandeza quantificada através da razão entre a força (F) e a área (A) da superfície em questão, onde a força é aplicada. (fonte)
Se trabalharmos nesse conceito podemos dizer que pressão demais deforma um material e pode até destruí-lo.
É por isso que não podemos nos dar ao luxo de descer 200 metros abaixo do nível do mar sem estarmos sob a proteção de um submarino.
Saindo dessa esfera quase científica de análise da palavra pressão, voltemos nosso olhar para as pressões que sofremos no dia a dia.
A sociedade do cansaço

Comentei lá Instagram sobre um livro que li há pouco tempo: Sociedade do Cansaço.
Um dos pontos que ele aborda é a realidade das relações de produção no trabalho na atualidade.
Estamos inseridos na sociedade do desempenho.
Rodeados por um excesso de positividade somos literalmente enganados por discursos motivacionais exagerados.
Não há nada de errado em buscar motivação.
Mas, se as coisas demoram muito a acontecer do jeito que esperamos rapidamente nos frustramos e quase entramos num depressão.
No ambiente de trabalho cria-se um verdadeiro ringue de luta sobre quem bate mais metas.
Dependendo da natureza do trabalho a ordem é ser desonesto até ou enganar de forma suave.
Quando as metas são injustas e produzem injustiça
Conheço uma pessoa que para bater metas foi obrigada a empurrar o pior produto que um banco pode oferecer a um cliente: título de capitalização.
As economias da vida inteira de uma pessoa quase foram aplicadas num produto de rentabilidade insignificante.
Se tal cliente porventura precisasse sacar a quantia aplicada perderia boa parte.
Mas, o funcionário era honesto e não teve coragem de induzir o cliente a um mau negócio.
Contudo, a maioria faz, porque se não fizer não bate a meta, perde o emprego, fica para trás.
É a sociedade do desempenho nos fazendo agir de forma insana com os outros e conosco.
A pressão interna que nos oprime
No meu trabalho, embora eu esteja no setor público, não fico livre dessa pressão.
A mais recente requisição é aumentar o índice de aprovação dos alunos. Estão batendo firme nessa tecla, querem números.
Um cartaz que gerou polêmica oi colocado nos corredores da escola.
Nele, ficou patente a quem era atribuída a culpa e responsabilidade pelas metas não alcançadas:

Só para você entenda a situação: seria necessário que alguns alunos que estão no terceiro no fossem “re-alfabetizados” .
Infelizmente não dá para fazer isso no terceiro ano do ensino médio em um apoio externo.
Depois de ver esse cartaz eu intensifiquei ainda mais as aulas, fiz duas semanas de revisão antes das provas, mastiguei o conteúdo.
Cheguei a resolver algumas das questões que estariam na prova junto com os alunos.
Fiquei rouca, acabei me alimentando mal e não fazendo o lanche na hora do intervalo.
Isso, porque eu precisava estar de estômago vazio para assim que eu pusesse os pés em sala começasse logo a explicar, tirar dúvidas…
O resultado? Em algumas turmas alguns alunos não conseguiram tirar nem um 6,0, como é de costume. Nada melhorou, na verdade piorou.
A história também se repetiu com outras disciplinas.
Eu me pressionei, eu me estressei de graça, pus a culpa nos meus ombros e vi que a culpa não era minha.
Não posso estudar pelos alunos e nem fazer prova por eles, a responsabilidade também é deles.
Definindo limites

Depois disso defini alguns limites. Não vou passar deles, pois quero garantir minha sanidade. Metas devem ser realistas e não insanas.
Nada de ficar tomando para mim a culpa que não é minha.
Não posso salvar o mundo, mas posso manter minha integridade física e emocional enquanto faço o meu trabalho da melhor maneira possível.
Quando eu perceber que há um aluno que realmente tem o desejo de crescer, ajudarei de bom grado, é meu trabalho.
Mas não lançarei pérolas aos porcos.
Não sei qual a natureza do seu trabalho, mas sei de uma coisa, cuide-se.
Eu já vivi horrores por excesso de trabalho e já até falei um pouco do meu esgotamento em outro post aqui.
Escravidão disfarçada
Trabalho formal nenhum nessa terra deve roubar sua saúde, arrancar seus sonhos, minar a sua vida.
O nome disso é escravidão , mas parece que estamos voltando de forma insidiosa à maneira antiga de explorar o trabalho humano.
É uma exploração velada, bonita, com requinte.
Nesse cenário somos chamados a ser “protagonistas” , mas o preço de tal protagonização pode ser alto demais se não impusermos alguns filtros e limites.
Trabalhe, dedique-se , mas conheça bem o seu valor a fim de não ser o seu próprio algoz e acabar se submetendo a um modelo neurótico e doentio de autocobrança.
Eu desejo , de coração, que Deus abençoe sua vida, com saúde para trabalhar, com coragem para dizer não e com oportunidades maravilhosas para você fazer o que você mais ama!
Isso não quer dizer que não terá trabalho duro a fazer, mas quer dizer que será um trabalho com muita satisfação, apesar dos percalços do caminho.
Uma ótima semana!
Sabe Dani entendo sua angústia. ainda ontem estava no interior de uma loja e vi o burburinho das funcionárias para bater meta juro pra você eu pensei em pesquisar o objetivo da meta, em que parâmetro se estabelecem as metas?
Quanto às outras angústias que você mencionou:Excesso de qualquer natureza são prejudiciais e certamente se pecamos em um deles iremos dar com os burros na água.
Outra coisa, muitas vezes nossas observações são tantas que se a gente insistir em tomar pra si as responsabilidade do que acontece com o outro é tamanha que os prejudicados seremos nós.
Então ou vc entra no esquema ou se isola,
Achei bem profunda sua angústia neste texto , você se preocupa em diversos aspectos porem com sofrimento e a responsabilidade que lhe é peculiar em você as impressões se intensificam.
Enfim seria bom que mais pessoas tivessem sua sensibilidade.
Belíssimo texto .
Bom sábado e paciência.
Bjs
É Isa, seria bom sim se houvesse mais empatia, sensibilidade, olhar humano… mas o que há é uma sede de lucro excessivo, metas números… às vezes tenho vontade de ir para o meio do mato kkkkkkkkkkkk. Nada contra a produtividade, precisamos crescer, a economia prosperando todos ganham, mas acredito que é necessário um equilíbrio.
Que jesus volte logo para por ordem nessa terra, porque o mundo está louco hehe
Abraço!